Se a Jordânia fosse uma pessoa, ela seria um senhor simpático chamado Mohammed, que trabalha como motorista e guia turístico há quase 30 anos e registra em seu caderno cada uma das pessoas a quem ele apresenta as belezas do seu país. Ele garante que não falte água ou até mesmo um lanche nos passeios, escolhe a estrada mais bonita, serve de intérprete e está sempre pronto pra responder com um “welcome very much” a cada agradecimento pelos excelentes serviço prestados. E se despede dos clientes satisfeitos com um abraço, ao deixá-los no aeroporto.
Poderia ser também uma beduína que vende souvenirs em Petra, na escadaria que leva ao Monastério. Ela oferece chá aos visitantes exaustos dos degraus íngrimes do caminho, recebe-os com palavras acolhedoras nas diversas línguas que aprendeu com os turistas e, como boa vendedora que é, amolece seus corações antes de oferecer seus artigos locais, que podem ser pagos em dinares, dólares, euros ou Visa. Seu nome é a palavra árabe para “Natal” – “Mi chiamo Natale”, ela me contou em italiano.
A Jordânia poderia, ainda, ser Sameer, um falante avô de 12 netos, que morou e estudou no Canadá, foi jogador de futebol e hoje trabalha como guia turístico em Jerash. Um dos seus seis filhos trabalha para as Nações Unidas, distribuindo alimentos no Sudão, e já deu muitos sustos no pai. Sameer tem em casa uma cesta de basquete e uma trave de futebol, pra brincar com os netos. Ele tem também uma fazenda, onde ele rega seu parreiral antes de ir pro trabalho. Ficou chateado porque lavou o carro na véspera da chuva – uma daquelas coisas que parece unir as pessoas, quando a gente ouve de alguém no outro lado do mundo.
Mohammed, nosso motorista, guia, intérprete e o que mais a gente precisasse
“Natal”, que dividiu comigo seu chá quando eu estava prestes a desistir da subida
Sameer, o Indiana Jones de Jerash
Como seu povo, a Jordânia é receptiva, acolhedora e cheia de histórias pra contar. Um destino relativamente novo, recebendo apenas uma parte dos muitos visitantes dos vizinhos Egito e Israel, o país tem ricas paisagens, que vão do deserto a lindas praias, passando por pântanos e montanhas, e que são povoadas pela hospitalidade dos Jordanianos e pontuadas por conquistas históricas e importantes referências religiosas. Gregos, Romanos, Muçulmanos, Cruzados e muitos outros deixaram suas marcas nos milhares de sítios arqueológicos espalhados pelo país, que foi também cenário de passagens bíblicas.
Com Amã, a capital, a 3h30 de voo de Dubai, onde moramos, o feriadão de Páscoa era a oportunidade perfeita para conhecermos o país. Escolhemos um roteiro de 3 dias e 4 noites que incluía Amã, o Mar Morto, Petra e Jerash, uma das mais preservadas cidades romanas a Leste do Mediterrâneo. Apesar de nossa viagem ter sido enxuta, a Jordânia certamente inspira roteiros mais longos e cheios de atrações de tirar o fôlego.
Amã
Chegamos a Amã na quinta à noite. No caminho até o hotel, vimos a movimentação típica da véspera do final de semana (que na Jordânia, como em outros países árabes, é de sexta a sábado), as pessoas circulando entre os bares e restaurantes da animada Al Rainbow Street, onde estávamos hospedados.
Nós, que já estamos acostumados com a modernidade dos arranha-céus e a característica plana das ruas de Dubai, adoramos o charme das casas e prédios construídos em pedra, com suas floreiras e árvores, e a sinuosidade das muitas e muitas ladeiras.
Na manhã seguinte, além de circularmos rapidamente pela cidade, tivemos tempo de conhecer dois dos principais pontos turísticos de Amã:
1. The Roman Theatre
Construído entre 169 e 177 DC, o Roman Theatre era o ponto central de Philadelphia – como Amã era chamada até ser conquistada pelos Árabes em 635.
Na chegada, é possível ver uma série de colunas Coríntias e pouco do pavimento original do que um dia foi o fórum de Philadelphia.
O teatro, construído junto ao monte, impressiona pelo tamanho, pela vista e pela acústica. Muito bem conservado, ainda hoje recebe eventos musicais e esportivos, acomodando quase seis mil pessoas.
2. Citadel Hill – Jabal Al Qal’a
O Citadel Hill, ou Jabal Al Qal’a, é um dos sete jabals (montes) que formam Amã. Ele vem sendo ocupado há mais de 18 mil anos, desde o período Paleolítico, o que faz da região um dos focos mais antigos de ocupação contínua no mundo. No entanto, com a chegada dos romanos em 63 AC, muitos vestígios dos povos anteriores foram eliminados. Ainda assim, elementos da Idade do Bronze, do Ferro e do período Helenístico foram encontrados em meio às ruínas romanas da área: vários deles estão expostos no Jordan Archeological Museum, dentro do parque.
Mar Morto
Saindo de Amã, seguimos em direção ao Mar Morto. A descida até o ponto mais baixo da Terra (fica 400m abaixo do nível do mar) leva pouco mais de uma hora da capital jordaniana.
O Mar Morto – que na verdade é um lago – ganhou esse nome porque sua água extremamente salgada impossibilita praticamente toda vida marinha. Pra se ter uma ideia, a água do mar é constituída geralmente por 3 a 4% de sal – a água no Mar Morto é mais de 30%.
Ele é alimentado principalmente pelo Rio Jordão, mas não escoa para lugar algum: milhões de litros de água da superfície evaporam todos os dias, formando acúmulos de sal na orla e uma névoa densa que reduz qualquer barulho a quase nada. Diz-se ainda que essa bruma filtra os raios UVB, permitindo que os turistas se bronzeiem sem queimar: pela quantidade de gente vermelha que eu vi (e por experiência própria), tenho minhas dúvidas – melhor não arriscar e reforçar o protetor solar.
A experiência de entrar na água é única. Densa e até um pouco oleosa, ela sustenta o corpo, impedindo-o de afundar. Boiar nunca foi tão fácil! E boiar numa água morninha, num lugar tão silencioso e lindo traz uma paz tão grande que a vontade é de ficar ali pra sempre.
A paisagem é incrível. A água cristalina e tranquila do lago, emoldurada pela vista do West Bank (a Palestina é logo ali), formam o cenário perfeito pra horas de contemplação. Eita mundão bonito!
Tanto a água quanto a lama do Mar Morto são comprovadamente terapêuticas, o que traz muitos turistas aos spas dos hotéis da região. A alta concentração de minerais ajuda no tratamento de doenças reumáticas e de pele, e o ar local é altamente oxigenado.
Na praia, todo mundo se diverte com a lama – alguns dos pés à cabeça, outros (como eu), mais timidamente: o importante é não perder a chance de experimentar. Se quiser levar a experiência pra casa, várias linhas de cosméticos são vendidas como souvenir (até no freeshop).
DICAS
Gerais:
- Depois de conferir os depoimentos no Trip Advisor, compramos nosso roteiro pela Petra Nights Tours. Com exceção da passagem aérea, eles cuidaram de absolutamente tudo. Nosso motorista, Mohammed Abuyaman (lá do início do post), foi o mesmo durante toda a viagem, o que ajudou a estabelecer a confiança. Claro que o fato de ser uma viagem curta pra nós facilitou o desapego de fazer tudo à distância, mas, pela nossa experiência, o serviço é impecável.
- O visto para brasileiros é feito no aeroporto, na chegada ao país. Custa JD 40 (USD 60) por pessoa. Essa taxa não estava incluída no nosso pacote e foi paga na hora, mas foi só chegarmos na Imigração que um funcionário da PNT nos recebeu e cuidou de todo o processo.
- Por mais que o câmbio no aeroporto não seja o mais vantajoso, aproveite a chance de trocar dinheiro ali. Pelo menos nas áreas e nos horários em que circulamos pelas cidades, não encontramos casas de câmbio abertas. Se esse for o seu caso, vale sacar dinheiro nas ATM de qualquer banco. O dólar americano é aceito em alguns locais (hotéis, por exemplo) e o troco é dado em dinares.
- Mesmo que o motorista e os guias estejam incluídos no seu roteiro, eles esperam gorjetas generosas. O mesmo vale nos restaurantes e para qualquer outro tipo de serviço prestado.
Mar Morto:
- Junto ao Mar Morto, há diversos hotéis, muito deles cinco estrelas. A maioria recebe turistas para day-use, mas pode depender da ocupação do hotel no momento. Há ainda a opção das praias particulares (a.k.a. pagas), como a Amman Beach e a O Beach, que oferecem infra-estrutura de vestiários/chuveiros, aluguel de toalhas, restaurantes e lounges.
- Tanto nos hotéis como nas praias particulares, roupas de banho como biquíni e sunga são aceitáveis. Em qualquer outra praia, bermuda e camiseta são o mínimo, especialmente para mulheres.
- Não esqueça do chinelo! As pedrinhas da beira do mar machucam e ficam bem quentes. A própria areia, antes de chegar às pedras, aquece a ponto insuportável. Muitos banhistas optam pelas sapatilhas aquáticas.
- As placas na praia alertam, mas vale sempre reforçar: ao nadar, não deixe a água entrar em contato com os olhos e a boca (mergulhar, nem pensar). Além disso você vai sentir qualquer micro ferida – a grande quantidade de sal faz arder as áreas mais sensíveis da pele, mas a experiência vale a pena e ainda tem efeito cicatrizante. 😉
O Post continua….parte II será divulgada ainda esta semana no blog. Fique de olho!
By Luciana ThiesenLuciana é publicitária, nascida e criada em Porto Alegre, mas com o coração no mundo. Há cinco meses mora em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com o marido Gabriel. Juntos, aproveitam essa nova fase pra conhecer tudo que podem do lado de lá do planeta.
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Muito util este post, Luciana. Vou viajar de Sydney ao Rio pela Emirates em dezembro, e o voo faz escala em Dubai. Falei com o Pedro Dale e ele me recomendou o seu blog.
Estou pensando em ir a Jordania tambem, mas sozinha. Como eh o tratamento a mulheres por la? sei que eh uma regiao bem machista. Voce achou perigoso?
Obrigada, parabens pelo blog.
Vera
Vera, segue a resposta da Luciana:
Vera,
Que legal que o Pedro indicou o post. A Jordânia é um país lindo mesmo, e o passeio a Petra é imperdível.
A região é machista, sim, e o número de homens é bem maior do que o de mulheres. Isso pode intimidar um pouco, mas não significa que vai ser perigoso. Talvez você ouça “elogios” ou receba “convites” se perceberem que você está sozinha, mas é só ignorar. Eles não vão disfarçar os olhares – eles olham mesmo você estando acompanhada do marido (isso é comum mesmo aqui em Dubai)!
O que eu sugiro é o usual: escolha roupas mais discretas (fechadas, o que não vai ser um problema em Dezembro, porque na Jordânia tem inverno de verdade), fique na sua se não quiser ser abordada (nada de contato visual) e procure circular por áreas movimentadas sempre. Se fizer um pacote como o nosso (indiquei a agência no post sobre Amã), você garante a companhia do motorista o tempo todo – ele pode ajudar com recomendações do que evitar também,
Espero ter ajudado!
Um abraço,
Luciana