Um Réveillon à procura da Aurora Boreal by Luna Steffen

Em junho de 2016, no meio de uma viagem de carro, eu recebo um alerta no celular daqueles aplicativos de viagem, com uma promoção imperdível de São Paulo para a Dinamarca; olhei para o meu marido e falei “Amor, São Paulo – Copenhague por R$1300,00 para as nossas férias de dezembro, topa?”. Ele topou na hora! Compramos a passagem dentro do carro mesmo para não dar chance ao erro, e nessa hora começou a ansiedade e preparação para viagem mais incrível das nossas vidas.

Comecei a procurar cidades que norteavam a Dinamarca, para usarmos bem nossos 20 dias de viagem pela Europa, e em algumas pesquisas lia relatos de viajantes que visitavam a Noruega para presenciar a Aurora Boreal. Foi assim que comecei a me encantar com a ideia. Mostrei para meu marido, e desta vez ele titubeou um pouco, mas depois de um pouco de insistência ele resolveu encarar a aventura.

Reservamos seis noites para as cidades ao norte do Círculo Polar Ártico, sendo quatro dias na cidade de Tromso, na Noruega (conhecida como capital mundial da Aurora Boreal); dois dias em Kilpisjarvi, na Finlândia, a três horas de carro a partir de Tromso. Vale lembrar que a Aurora Boreal é visível apenas do mês de setembro ao mês de março, e quanto mais próximo aos polos você estiver, maior será a chance de ver este fenômeno. Contudo já vá se preparando psicologicamente para o frio!!

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Fui me organizando direitinho para que nada desse errado, fiz muitas buscas em outras línguas, fui comprando aos poucos as roupas de frio, fazendo a reserva do carro e reservando as hospedagens. Logo de cara já percebi uma coisa muito importante – os países nórdicos são bem mais caros que seus vizinhos (Polônia, Alemanha, França), então é bom preparar o bolso.

Começamos nossa trip para a Aurora Boreal saindo de Bergen e chegando a Tromso. Você se depara com uma cidade linda, cheia de pontes ligando as ilhas, todas as casas com luzinhas de Natal e tudo coberto de neve, um charme. Uma curiosidade é que no mês de dezembro e janeiro a luminosidade do sol paira pela cidade por apenas 3 horas.

Ainda no aeroporto retiramos nosso carro, reservado com quatro meses de antecedência pelo site da Companhia Aérea SAS com a empresa Hertz, e, por incrível que pareça, conseguimos um preço excelente, a bagatela de R$790,00 para seis dias! O carro era todo preparado para neve, automático e com aquecimento de bancos e volante.

Nos dois primeiros dias, ficamos em uma casa reservada no Airbnb, pertinho do aeroporto, e pagamos aproximadamente R$350,00 a diária. Assim que chegamos, já colocamos nossas roupas de frio – segunda pele no corpo todo, blusa de fleece ou lã, um casaco corta vento, uma calça impermeável e uma bota estilo Decathlon à prova de frio e resistente à água, além de cachecol, luva, duas meias e uma touca. Ufa!

No primeiro dia em busca da Aurora Boreal, pegamos o carro e fomos até uma ilha chamada Sommaroy, pois lemos relatos de as luzes aparecerem por lá. Quando chegamos na ilha, o céu estava limpo, porém não vimos nenhuma Aurora. Quando contamos para a dona da casa onde ficamos como havíamos feito nossa caça, ela logo nos disse que a Aurora não fica 100% do tempo no céu, então você precisa ter paciência e esperar ela surgir.

No dia seguinte, fizemos o mesmo caminho, porém paramos em um fiorde chamado Ersfjordbotn, que fica longe da luminosidade da cidade e também havia a possibilidade de vermos a Aurora. O que conseguimos foi ver um céu muito estrelado, e as lentes da câmera captaram um espectro esverdeado no céu que não era visível a olho nu.

Mais um dia que voltamos para a casa com o sentimento de fracasso, depois de horas de viagem e espera. No dia seguinte, já era a hora de irmos para  Kilpisjarvi (na Finlândia). No meio do caminho, quase nos convencemos a pagar uma excursão para caçar a Aurora, que custa em média R$400,00 por pessoa. Porém depois de chegarmos no nosso chalé (Hotel Saivaara Mökit – 130 Euros por noite), decidimos tentar mais um dia por conta própria.

Era dia 30 de dezembro, a temperatura estava 10 graus abaixo de zero e mais uma vez saímos para caçar. Em 15 minutos começamos a ver várias Vans indo para o sentido contrário ao nosso e não deu outra, começamos a seguí-las. Foi seguindo um dos veículos, que, do nada, ouço o berro do meu marido “Luna, meu Deus, acho que é ELAA!!”. Eu parei  o carro, estacionei onde podia e ao olhar para o céu, ela estava lá, tímida, como um véu verde fino. Foi bonito, porém ainda não estávamos satisfeitos. Fomos um pouco mais para dentro da Finlândia com o carro, paramos em um terreno, armamos o tripé e quando olhamos para o céu, lá estava ela novamente, aí sim, foi uma sensação emocionante. A Aurora Boreal coloriu o céu e dançou para nós de um jeito inexplicável. Nesse momento sentimos aquele arrepio e a sensação que tanto queríamos.

Mas, o melhor ainda estava por vir. No dia 31, virada do ano, nós não precisamos nem sair para caçar com o carro. A intensidade da Aurora estava tão forte que o espetáculo foi em cima das nossas cabeças a partir das 19h até as 02h. Durante muitas horas, as “Luzes do Norte” vinham, exibiam-se com formas e cores diferentes e se escondiam. Neste dia não contive a emoção e meus olhos se encheram de lágrimas de gratidão, por eu ter o privilégio de estar em outro lado do mundo vendo um dos mais belos espetáculos que a natureza nos proporciona.

No dia seguinte fomos em direção a Tromso, pois alugamos  um apartamento em uma fazenda que ficava a 45 minutos da capital da aurora (R$400,00 a diária). Tínhamos em frente à nossa sacada um fiorde maravilhoso, nos arredores cavalos e ovelhas bem peludas para se protegerem do frio, e tudo ficava no meio do nada, lugar perfeito para mais uma vez ver a Aurora no céu.

Fomos agraciados por mais dois dias de luzes, não tão fortes como no dia da virada, porém tão emocionantes quanto.

Se você tem dúvidas se vale a pena se arriscar no frio para ver a Aurora Boreal, quero te dizer NÃO TENHA DÚVIDA, VÁ! Vale cada hora mal dormida e cada centavo. Sei que não voltarei a esse destino, pois queremos conhecer vários cantos diferentes do mundo, mas vou levar essa experiência para toda a vida.

Algumas dicas práticas que posso passar são:

• baixe os aplicativos existentes sobre a Aurora Boreal no celular, eles ajudam na caça pois revelam a intensidade prevista da Aurora e a cidade em que ela será vista (mas nem sempre é 100%);
• se você sabe falar inglês razoavelmente, fique tranquilo, não morrerá de fome, pois a maioria das pessoas falam inglês;
• na Noruega, a moeda é a Coroa Norueguesa (NOK), que vale de forma simplificada 40 centavos nok para 1 real, ou melhor ainda, divide por 2 que não tem muito erro. Já na Finlândia é o Euro, que ficou na faixa de 1 euro para 3,85 reais. Vale a pena trocar o dinheiro em alguma capital, porém vale mais a pena ainda usar o Visa Travel, quase não encostamos em papel moeda nos países nórdicos;
• se proteja do frio, ele pode te tiver do sério às vezes e fazer com que você deixe de aproveitar a natureza ao seu redor. Leve sempre com você uma térmica com café, uma meia extra e um carregador portátil, o último pois no frio a sua bateria termina muito mais rápido.
• tirar fotos da Aurora Boreal é uma tarefa difícil, você precisa ter uma câmera com regulagem de ISO e tempo de exposição e uma lente com uma boa abertura angular (f/2.8 é perfeita). Não se esqueça de levar um tripé.

by Luna Steffen

Luna tem 25 anos, mora em Curitiba, é estudante de Mestrado em Engenharia Civil e tem como hobby a fotografia. É casada com sua alma gêmea e juntos compartilham o desejo de desbravar o mundo.