Passaporte, fones de
ouvido, malas. Meias Kendall (mulheres, vocês sabem do que estou
falando), revistas, livro, pescoceira. Líquidos em saquinho,
raio-x, alicate na bolsa. Filas, Dormonid, Rivotril, limite
de bagagem, atrasos.
Qualquer viajante que se preze
sabe do que estou falando. Quando andei pela primeira vez de avião,
na saudosa TransBrasil, tive a sensação de que
as poltronas eram enormes e todo mundo dormia e chegava inteiro no
final. Infelizmente com a idade e os centímetros de altura e pernas
a mais a dura realidade se apresentou: vida boa no ar só mesmo na
executiva. Porque lá, na ala da frente dos aviões, a vida é regada
à champagne e canapés, e a poltrona é reclinável, de
verdade.
Mas como a tendência parece
ser passagens cada vez mais caras para essa turma e cada vez mais
baratas para os mortais de trás – com RyanAir
e afins querendo vender passagens em pé (!) para baratear o trecho
– a solução é mesmo aprender a voar. Não literalmente, é
claro.
Já questionava Ryan
Bingham, personagem de George
Clooney no filme que deu nome a essa coluna: “quantos
quilos pesa a sua vida?”. Pois na hora de embarcar deveríamos
deixar muitas coisas para trás, para então viajar livres e
desimpedidos. Conheço quem leve o conceito de ‘travel light’ ao pé
da letra, e viaje, seja para onde for, com uma mala de mão pronta
para ser substituída e recheada no destino. Tem também os que, como
eu, levam a casa de arrasto e volta e meia precisam reforçar a
coleção Samsonite por puro desespero na hora de empacotar tudo de
volta. A verdade é que não tenho capacidade de entender como
aqueles monstros levantam do chão com tantas toneladas dentro
deles. Mas nada de pânico: depois de sentado, o melhor é
relaxar.
No entanto,
entre os vídeos chatos de segurança e a guerra nas esteiras de
bagagem, muita coisa pode acontecer. Uma vez fui abordada pelo
vizinho de poltrona que, com a Bíblia aberta na frente, me dizia
que tinha certeza que eu era a Wanessa Camargo
e estava tentando viajar disfarçada. Soube também de uma tia que
teve ligamentos rompidos por um bebum que confundiu a última
poltrona da aeronove com o banheiro e, assustado ao se dar conta
que eram as pernas de uma senhora, caiu sobre ela.
Agora, se você resolveu que a melhor
maneira de chegar onde quer é cortando as nuvens, prepare-se: uma
bela pesquisada, ao mesmo tempo, nos sites das companhias que fazem
o trajeto pode render bons achados. Sugiro evitar a compra pelos
sites de ‘comparação online’, aqueles tipo ‘scanner’ de vôos. Isso
porque na hora da reserva você coloca um intermediário entre
comprador e prestador de serviços, o que pode a vir a ser um
transtorno caso precise desmarcar ou mesmo ter informações extras.
E mais: considere sempre as grandes companhias aéreas e suas
afilhadas. Isso é garantia de aviões mais bem cuidados e modernos –
e essa informação é obrigatória caso você não faça questão cruzar
oceanos no catastrófico Fokker 100.
Mas dica boa mesmo é acumular
milhas. É praticamente impensável querer rodar o mundo e não
participar de nenhum programa desse tipo. Hoje não há uma azeitona
que não vire milhagem. As vantagens são muitas, desde upgrades de
classe até prêmios bobos. Além disso, a grana que você gasta
pagando os tickets no seu cartão de crédito, quem diria, só exige
um pouco de fidelidade e organização para, ali adiante, virar outra
passagem.
E viva
Ryan e seu objetivo secreto de atingir a
impressionante marca de 10 milhões de milhas aéreas. Toque aqui
quem quiser participar!