Uma entrevista com Xavier Mascaró

O escultor espanhol Xavier Mascaró mostra para o Spice Up The Road um pouco da sua obra, de si mesmo e da sua vontade e motivos de querer fazer uma exposição em Porto Alegre.

Na verdade a minha primeira idéia de escrever sobre a obra do Xavier Mascaró, um dos escultores espanhóis mais importantes do século XXI, era fazer um belo texto porque sou fã numero 1 do que ele faz. Na verdade, o que eu queria era fazer uma entrevista e misturar, como uma salada, o que ele me contava com as minhas próprias opiniões sobre a obra dele, ainda mais agora, que ele acabou de fazer uma monumental exposição na Saatchi Gallery, de Londres.

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Então comecei a pensar em Porto Alegre, na minha cidade que tanto amo e que, cada vez que vou, sinto que falta de um pouco mais de programas culturais, de arte internacional. E conversando com o Xavier Mascaró, perguntei a ele se não gostaria de abrir mercado no Brasil e a resposta foi um “sim, claro”. Então decidimos almoçar para falar sobre o tema e resolvemos apresentar a obra dele à instituições de Porto Alegre. E o resultado foi um convite para ser comissária da exposição, caso fosse aceitada, em Porto Alegre.

E com este convite, não tive como não fazer uma breve apresentação dele e uma entrevista de “Xavier Mascaró by Xavier Mascaró.” Estava claro que eu não podia opinar muito.

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Xavier Mascaró é considerado por muitos o “escultor do ferro”. Um artista que trabalha os metais como nenhum outro. Tem um background impressionante com exposições monumentais em cidades como Madri (em pleno Paseo de Recoletos, uma das ruas mais importantes da cidade) ou ainda no Palais Royal, de Paris. Uma trajetória digna de grandes artistas. Dos melhores.

E ele sabe interpretar a escultura com uma linguagem própria. Segundo Carlos Saura (cineasta, fotógrafo e escritor espanhol de grande prestigio internacional), Xavier Mascaró “é um artista singular que é capaz de fundir e forjar barcos que não podem navegar, aviões que não podem voar, touros que não podem tourear, cavalos que não podem cavalgar, objetos cotidianos que quase não podem ser movidos, cabeças e corpos que colocados sob a terra, pelo seu peso, podem resistir a furacões. E os seus Budas guardiães, imponentes e hieráticos, com sorriso de metal oxidado e com miradas retangulares, tem alma de ferro”.

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No mundo da arte tudo é uma suposição, uma imaginação que o artista dá vida . A obra de Xavier Mascaró, ocupa um espaço singular e claramente definido. O seu trabalho sempre foi marcado pela importância dada à forma, à textura e ao material. Em comparação com as estratégias esculturais, na instalação, a sua obra enfatiza o poder físico do objeto sobre o conceitual.

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Com esta breve apresentação sobre o artista espero que o conheçam através das fotos que ilustram esta reportagem e, quem sabe, se tivermos sorte, dentro de alguns meses, ver as suas obras ao vivo na nossa bela cidade de Porto Alegre.

 J: Como você se define como artista?

Xavier: Eu me considero um artista, escultor, criador, pintor contemporâneo. Uma pessoa que atualmente produz obras que estão intimamente ligadas com o meu eu interior, a energia que eu sinto dentro de mim, com a minha personalidade mais profunda. O que eu quero expressar é a força que eu sinto dentro de mim e que está conectada a outros artistas, tanto com os de agora como muitos do passado.

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J: Quem, por exemplo?

Xavier: Existe hoje em dia uma lista tão ampla de artistas no mundo contemporâneo. Sobretudo, alguns artistas chineses. Não que eu me sinta conectado. O que acontece é que eu percebo, sinto essa energia do que eles criam

J: Como funciona o seu processo criativo. Como você cria, por exemplo, esta escultura que está na capa do catálogo da exposição da Saatchi?

Xavier: Esta peça é um casal sagrado “Sacred Couple“. Está inspirada em casais sagrados do passado, como divindades ou personagens que são representados como casais. O que fiz foi unir dois símbolos de obras pré-colombianas. Combinando um ídolo da fertilidade – a mulher – com um homem que representa a sabedoria de Chaman. Eles são uma espécie de deusa da fertilidade e o Chaman. O que eu quero é simbolizar a fortaleza do casal, a união do homem e da mulher. E não é desde um ponto de vista romântico, mas como energia e força criadora.

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J: E o teu processo de criação … Pensas em alguma coisa e decides criar, assim tão de repente?

Xavier: Realmente o que eu tenho são obsessões com formas, imagens que aparecem na minha imaginação; que lidam com as memórias que desenvolvo. Imagens icônicas que quero dar-lhes vida através dos materiais que eu conheço que são o ferro e outros metais, o alumínio e também a cerâmica.

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J: Está criando alguma coisa agora?

Xavier: Agora estou voltando a desenhar e pintar. Meus desenhos são realmente pinturas sobre papel e eu mal posso fazê-lo porque quando eu faço me parecem muito irritantes no que diz respeito à escultura, sua fragilidade e sua torpeza com relação a quando eu desenho no ar, com as esculturas. Mas, depois, eu realmente gosto da sensação que transmitem, são débeis e etéreos.

J: Você acaba de expor o seu trabalho em Londres, na Saatchi Gallery. Londres é uma cidade com um nível cultural impressionante. Porque agora você está querendo levar o seu trabalho para o hemisfério sul, mais precisamente para Porto Alegre, no Brasil?

Xavier: Eu acho o Brasil fascinante, embora eu não o conheça. Eu nunca estive lá. É um dos lugares que mais tenho vontade de conhecer. Um país que sempre exerceu uma grande atração em mim, eu sinto que transmite uma enorme vitalidade, paixão, alegria no modo de lidar com a vida e a cultura, além de que lá foram desenvolvidas, nas últimas décadas, obras muito vanguardistas e inovadoras no que se refere a cultura. Ele é um dos maiores países do mundo que está remodelando o mapa de influência. Está em plena evolução e estou muito interessado nos processos e nas mudanças que estão ocorrendo no Brasil.

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J: Há bons colecionadores no Brasil?

Xavier: Não conheço o mercado brasileiro, mas eu sei que há grandes colecionadores brasileiros.

J: E começar por Porto Alegre ? É uma cidade não muito grande, não muito conhecida, não é colocada no mapa do mundo no que se refere a cultura, como outras cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Gostaria de começar por Porto Alegre? É uma cidade com um belo rio, uma cidade onde a população tem uma história muito relacionada com a cultura européia …

Xavier: Sim, sim. Eu já ouvi muito falar de Porto Alegre. Eu realmente quero. Pelas fotos que eu vi parece um lugar muito agradável e como você fala, com muita história associada com a Europa. Eu gostaria porque, talvez, tem menos desenvolvimento no campo cultural que esses grandes capitais que você me fala, mas penso que é uma cidade que quer abrir as portas para o mundo e, para mim, seria um bom lugar para começar a expor no Brasil.

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By Jordana Paiva

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