As casas do poeta Pablo Neruda
O poeta chileno Pablo Neruda, possuía 3 casas no Chile: a La Chascona, a La Sebastiana e a Isla Negra.
É possível conhecer as casas de Neruda através de empresas de turismo, mas meu namorado e eu decidimos fazer o nosso próprio itinerário de viagem.
Santiago é a capital do Chile, localizada ao lado da Cordilheira dos Andes, onde se situa a primeira casa de Pablo, a La Chascona. Esta casa fica perto do Cerro San Cristobal, no Bairro Bella Vista. Depois de conhecer o Cerro e o Zoológico, seguimos caminhando para a La Chascona sem saber como realmente funcionava a casa museu.
Na recepção pagamos 2.500 pesos para entrar e recebemos um aparelho parecido com um celular enorme que guiaria a nossa visita (tem a opção de escutar em português!). Cada ambiente da casa museu é identificado com um número, o visitante disca o número no aparelho, aperta play e escuta a história de todos os objetos ali presentes. Infelizmente não é possível fotografar dentro das casas, só que fiquei tão encantada que acho que nem me lembraria de tirar fotos. Cada móvel, copo ou quadro tem uma história.
Pablo Neruda foi um grande colecionador das mais diferentes coisas, como copos de vários países nas cores verde e vermelho (pois para ele a água tinha melhor gosto nessas cores). Mas a casa é repleta de brincadeiras: saleiro e pimenteiro identificados como ópio e maconha, passagens secretas para que ele surpreendesse os convidados na sala de jantar e muitas outras coisas. A visita foi maravilhosa, meu namorado (que nem conhecia tanto sobre Neruda) gostou tanto que quis repetir todo o percurso com o áudio guia.
O símbolo da casa é um sol que também é uma medusa. Sua segunda esposa, Matilde Urrutia, era bastante vaidosa mas ficava eternamente descabelada e como Neruda amava seus cabelos de medusa, batizou a casa de La Chascona, que tem um significado poético de algo como cabelo despenteado.
Ao sair da casa museu, seguindo pelas ruas de Santiago meio sem destino, notamos que os muros são cobertos por imagens de Neruda e Matilde.
A segunda casa de Neruda, La Sebastiana, fica no topo de um morro na cidade de Valparaíso, o que lhe garante uma vista espetacular da cidade portuária de Valpo (como foi apelidada pelos moradores). Pegamos um ônibus da empresa Turbus no terminal rodoviário de Santiago e chegamos ao nosso destino às 11 horas. Andamos pela avenida Pedro Montt, onde fica o Congresso nacional do Chile, até o Ascensor Espiritu Santo que nos levaria até o topo do morro. Perto da saída do Ascensor, na parede, estão as informações de como chegar na La Sebastiana caminhando mais um pouco morro acima.
Uma charmosa caminhada de meia hora por escadas e ladeiras nos levou até a casa. Um café bem charmoso e um jardim bem cuidado ficam na entrada, seguimos para a recepção e compramos nossos ingressos por 2.500 pesos, mais ou menos 5 dólares. A visita é exatamente como a da La Chascona, recebemos o áudio guia e vamos selecionando o ambiente em que estamos para ouvir a história por trás dos objetos mais inusitados.
E a vista? É maravilhosa. A vista do mar rodeado daquelas casinhas coloridas que mais parecem sair de um quadro não tem preço. Uma palavra para La Sebastiana: encantamento. Neruda comprou a casa de um homem chamado Sebastião e batizou-a em sua homenagem. Nesta casa ele morava com sua esposa e outro casal amigo. A mulher deste casal, artista plástica, o presenteou com um mural de pedras que ornamenta a primeira escada da casa e outro, muito grande, de lápis lazuli e pedra vulcânica que fica na casa de Isla Negra. Na sala de jantar está uma lareira inusitada cujo projeto foi presente de outro amigo do poeta e um pônei de carrossel, posicionado perfeitamente eu uma das pilastras, causando a impressão de que a qualquer momento vai voltar a saltar em círculos.
Imensas janelas de vidro permitiam que Neruda visse toda a cidade de Valparaíso, as pequenas casinhas coloridas que cobrem os morros e o mar azul. Dizem que ele ficava sentado na sua poltrona, que apelidou de nuvem, apontando para longe e contava aos amigos coisas que via naquelas casinhas, como uma mulher que todos os dias se deitava no telhado de uma casinha amarela bem longe para tomar sol. Os amigos ficavam observando por horas mas nunca viam nada. Era mais uma das brincadeiras do poeta, que, nas noites de festa, se fantasiava e trocava de fantasia muitas vezes, só para divertir seus convidados.
Ficamos tão apaixonados por La Sebastiana que decidimos ir a Isla Negra no dia seguinte. Mais uma vez acordamos cedo e pegamos um ônibus da Turbus para El Quisco, cidade de praia onde fica Isla Negra. O motorista parou no ponto mais próximo e nos avisou que devíamos descer ali. Perguntamos aos moradores onde devíamos ir e chegamos rapidamente na casa. Mesmo valor da entrada e mesmo áudio guia para conhecer a casa na praia que pertencia a Neruda. Apesar de ser primavera e o sol estar forte, estava muito frio, e tivemos que nos esquentar com um chocolate quente no restaurante da casa.
O poeta se considerava um Capitão de terra firme, o que se comprava pelas coleções que abrigou nessa casa. Incontáveis garrafas encontradas em naufrágios ficam no “bar do capitão”, onde recebia seus amigos vivos e escrevia o nome dos seus amigos que faleciam nas vigas de madeira do teto, onde Neruda estaria sempre em boa companhia. Um barco no jardim, uma extensa coleção de conchas encontradas por ele nas praias de todo o mundo e uma sala rodeada de mascarões também confirmam seu amor pelo mar.
No quarto dele está ainda a penteadeira de Matilde, sua vaidosa esposa, a cama em que dormiam e o guarda roupa do poeta, com as roupas que usou para receber o prêmio Nobel de literatura e o famoso cachecol vermelho que usava em todas as ocasiões.
A casa tem uma vista ímpar para o mar, um toalete masculino bastante irreverente e um cavalo com 3 rabos. Uma máquina a vapor na frente da casa apelidada por Neruda de “loucomotiva” mostra o quanto espirituoso era esse Chileno. Uma área externa da casa de Isla Negra abriga o seu corpo e o de Matilde, que lutou para preservar as casas, a memória e as idéias de Pablo Neruda depois da sua morte, 8 dias depois do golpe militar do chile.
O corpo de Neruda foi velado na La Chascona, para que o povo do Chile visse a depredação que a casa foi vítima após a tomada do governo das mãos de Allende pelos militares. A pena por corroborar com as ideias comunistas de Neruda era a morte, mas nem isso impediu milhares de chilenos de acompanharem o seu corpo até o cemitério onde foi sepultado antes de ser levado para Isla Negra.
A visita as casa de Pablo Neruda são mais do que interessantes, são indispensáveis para qualquer um que se aventurar a conhecer o Chile. Não sei dizer qual a casa que mais gostei, foram todas inesquecíveis.
By Natalia PimentaSexo feminino, cabelos castanhos, um olho no peixe, o outro no gato e muita vontade de conhecer o mundo.