Maria Porto atualmente é Dealer de Arte e Marchante de Arte Internacional. E hoje nos dá algumas pinceladas sobre a arte na Espanha.
Não existe viagem sem uma proximidade à arte de cada cidade, de cada país. Eu mesma sou apaixonada pelo mundo da arte, desde o Impressionismo a Arte Contemporânea, que me fascina. A Espanha é um berço de artistas maravilhosos. Temos o Museu do Prado que é, sem duvida, uma das Pinacotecas mais importantes do mundo.
Queria fazer o meu primeiro post para o Spice up the Road sobre o mundo da arte na Espanha, em Madri. E para mim, uma das pessoas que mais conhece do tema nesse país se chama Maria Porto. Além de amiga, sou uma admiradora dela. Conversamos sobre a arte. Sobre a visão dela do que está acontecendo atualmente, dos seus começos, sua paixão sobre esse mundo fascinante, obras importantes de artistas espanhóis, da sua trajetória pela importante Galeria Marlborough. Também falamos de Picasso e ela nos deu algumas dicas do que ver em Madri numa viagem a esta linda cidade.
Foi uma conversa ótima, despojada e como sempre, saio de boca aberta. Me chamou muito a atenção uma frase que a Maria me disse quando comentei que a Espanha é berço dos melhores artistas do mundo. Sabem o que ela disse? “Há pessoas que me dizem que já não existem artistas espanhóis tão internacionais. Mas é que o mundo não pode se permitir ter outro Picasso”.
Espero que gostem da entrevista e que em alguma visita a Madri disfrutem da arte com paixão e entusiasmo como eu usufruo cada vez que visito alguma exposição.
María, quais são os teus primeiros contatos com o mundo da arte?
Os meus primeiros contatos com o mundo da arte vêm da infância. Nosso pai era uma pessoa dedicada ao mundo da cultura na Espanha e nos fins de semana nos levava à “Cuesta do Moyano”, em Madri, para comprar livros antigos e livros de ocasião; também alguns dias nos levava ao Prado para ver algum quadro. Ele não nos pressionava muito para não criar o efeito contra, mas tínhamos o privilégio de viver numa cidade com o Museu do Prado, que as vezes, me parece mentira (há muitos madrilenhos que não pisaram no Prado). Ele nos comprava livros de arte, fazíamos trabalhos sobre a arte de Van Gogh, sobre o Dalaismo, ele nos explicava sobre movimentos artísticos, então tivemos a sorte que nos cultorizaram em casa. Quando estava estudando, lembro que tinha uma professora maravilhosa que quando explicava os nervos das colunas nos levava a uma igreja ou quando estávamos estudando “Las Meninas”, de Velázquez, nos colocava em frente a um quadro. Sempre vivi a arte de uma maneira pessoal e apaixonada. E também creio que influi a sorte.
De viver aqui, de ter um Prado?
Não isto. Por exemplo: Antônio López vivia em Tomelloso, um povo na Mancha, há 70 anos quando a Espanha não tinha nada que ver com o que é agora. Ele tinha uma inquietude e com 13 anos o seu pai lhe mandou a Madri para entrar na Escola de Artes e Ofícios e poder pintar. O que eu aprendi, sobretudo, e ao final tive a sorte de conhecer grandes artistas. Um artista é uma pessoa que olha as coisas de outra maneira, que vê coisas que os demais não veem. O que a arte me deu foi uma maneira diferente de olhar as coisas.
Falas com tanta paixão….
É que é muito bonito. Sabe o que acontece? Você vê as coisas de uma maneira diferente e aprende a dizer: me agrada ou não me agrada. Eu sempre disse à todo mundo que o primeiro passo é entender se a obra te agrada, para ai poder dialogar e descobrir coisas. E eu, que sou uma modesta colecionadora, fui comprando coisas pequenas. Ainda tenho na minha casa quadros de arte que comprei fazem 20 anos e continuo parando em frente dos quadros. Por exemplo, tenho um de Jose Maria Sicilia que sempre que o vejo de manhã, descubro algo. Tens que limpar a cabeça, sem entender e procurar o significado das coisas. É preciso olhar. Da mesma forma que se aprende a falar, cantar e aguçar o seu paladar, é preciso aprender a apreciar a arte. E chega um momento que não se sabe porque, mas você vê 10 obras e entende qual é cada uma.
Para mim uma das galerias mais importantes que existe é a Marlborough. Você esteve muitos anos trabalhando na de Madri. Como foi a sua trajetória?
A verdade é que foi apaixonante. No segundo ano da faculdade precisavam de uma ajudante para vender uns livros: “La corrida”, de Fernando Botero, por exemplo. Fernando Botero é um apaixonado por touros. De fato começou toureando e é um tema que se repete muito na sua obra ao longo da história. Tinha também um livro de Lucio Muñoz, pintor madrilenho e outro de Antonio López. E precisavam de alguém que os vendesse na Feira ARCO. E eu fui como uma louca e me apaixonei pela oportunidade de estar num stand, conhecer os colecionadores, os artistas e saber como se negociava uma venda. A galeria é o trabalho mais completo que você pode ter no mundo da arte. A Marlborough organizou muitas exposições dos seus artistas como escultura monumental, organizamos exposições no Museu Reina Sofía, colaboramos na exposiçãode Francis Bacon no Museu do Prado, etc. Você coordena desde galeria, o artista, o montador, até a pessoa que pendura os quadros na parede. É um mundo que abre muito a tua cabeça.
Conheceste muitíssimos artistas espanhóis importantes, certo?
A verdade é que conheci nacionais e internacionais. Durante meu tempo na galeria, tive a sorte que a mesma representava os melhores artistas contemporâneos do momento. Lá estava Lucio Muñoz, que é o melhor artista madrilenho. Quando cheguei à Marlborough, Madri estava construindo o Parlamento que esta localizado no Bairro de Vallecas e que é Prêmio Nacional de Arquitetura. Eu sempre via que quando saía o Parlamento Vasco, detrás saía uma obra de Chillida, que quando saía o Parlamento Catalão, saía Tapies. Pensei então que em Madri tinha que ser igual. Então fui ver o Presidente do Parlamento, que naquele momento era o atual ministro da justiça e apresentei-lhe o projeto. Ele se fascinou e Lucio fez um projeto que se chama “Ciudad inacabada” que foi seu grande projeto. Outro exemplo é Luis Gordillo, que fez uma estação de metrô num bairro trabalhador de Madri que se chama Lass Rosas. Imagina que há pessoas que nunca terão a oportunidade de chegar ao mundo da arte, mas que vão trabalhar e têm no metrô uma obra de Gordillo, que é Prêmio Velázquez. Também tive a sorte de conhecer Antonio López, que para mim é um gênio. “La Gran Via” de Antonio López é um dos quadros mais bonitos do mundo. Agora esta pintando a Gran Via desde o outro lado e esta terminando um quadro da Família Real, que será entregue em Outubro. Acredito ser o primeiro retrato da Família Real, que se faz desde os clássicos, desde Goya, de Velázquez, dos pintores da Côrte. E é incrível porque eu vivi a tela branca, desde a Galeria.
María, a Espanha é berço de grandes artistas: Picasso, Miró, Gaudí, Velázquez, Goya, Sorolla e muitos mais. É incrível a Península Ibérica com o mundo da arte!
Sim, é um lugar muito criativo, com uma luz maravilhosa, com paisagens que mudam de norte à sul e uma gastronomia única. Quando as pessoas me dizem que já não há grandes artistas espanhóis internacionais eu digo: é que o mundo não pode permitir outro Picasso. Picasso era um gênio que fazia o que tinha vontade.
Dealer de Arte, Marchante de arte internacional e Diretora e responsável pelo Espacio de las Artes, de El Corte Inglés. Este Espaço também é uma possibilidade para que as pessoas comecem a conhecer ao mundo da arte?
A arte sempre esteve associada a uma elite, então quando me ofereceram criar o Espacio de las Artes, do El Corte Inglés, me pareceu um projeto maravilhoso, porque faz com que todo mundo possa ver a arte. Que todos possam comprar uma gravura de Gordillo ou de Antonio López à prazo, sem medo, com uma pessoa formada, que te atende e que não vai te olhar torto se você não comprar ou se não conhecer o artista. Nesse espaço teve muita gente que teve sua primeira experiência nesse mundo da arte.
Você está agora tentando levar arte pública pro Brasil?
Sim, contigo nesse projeto. Parece-me um país maravilhoso. Eu lembro de muitos colecionadores brasileiros que tinham muito critério. E bom, o projeto é para a tua cidade, Porto Alegre, que é linda, com um toque europeu e construída de costas ao Rio. É a mesma coisa que aconteceu com Bilbao. Há um Bilbao antes do Guggenheim e depois. O Guggenheim mudou a cidade, pôs a Bilbao no mapa do mundo. Pois em Porto Alegre queremos tentar fazer o mesmo, levando arte de primeiro nível à cidade. É um projeto maravilhoso, de levar a arte para Porto Alegre e trazer arte gaúcha para Espanha.
María, todo mundo que viaja sempre vai a uma Galeria, a um museu. Quais são os imprescindíveis de Madri para quem vem aqui?
Museus obviamente: O Prado, o Reina Sofía, o Thyssen, Caixa Forum. Em Toledo, que fica a 30 minutos de Madri, não se pode perder a exposição do El Greco que é maravilhosa. Sobre as galerias, existe uma pequena, porém muito boa chamada Pilar Serra (Rua de Santa Engracia, 6), a Cayón (Calle Orfila, 10) que tem 2 espaços: um de arte contemporânea para gente mais jovem e outro que expõe artistas mais consagrados como Chillida, Tapies; a Marlborough (Calle Orfila, 5). Com essas opções já é possível ter uma boa noção do que está acontecendo no mundo da arte na Espanha.
By Jordana Paiva