O Dica Spice Up de hoje é dedicado aos amantes – e entendedores- do surf. Nós queremos mostrar que não é preciso viajar longe para pegar boas ondas. O vizinho Uruguai surge como alternativa de destino para feriados e até fins de semana, ainda mais no verão, que se aproxima. Por isso, hoje vamos compartilhar um guia sobre as condições das praias uruguaias para o surf. Quem escreve é o Lucas Zuch, do portal Surfari (a postagem completa está nesse link).
O Uruguai é uma das joias brutas da América Latina. Num belo entrosamento entre o cosmopolita e o rural, o Uruguai possui a menor taxa de analfabetismo, com mais de 97% da população alfabetizada, e o segundo maior índice de leitura entre os latinoamericanos. É possível enxergar os resultados disso nos mais diferentes aspectos, como a hospitalidade do povo, a arquitetura e urbanismo das cidades e na própria forma como os uruguaios encaram a vida. Não tente impor seu ritmo frenético pelas bandas orientais, pois lá, por vezes, parece que se vive no compasso dos anos 1920.
Com amplos espaços e uma baixa densidade demográfica, o Uruguai oferece uma natureza exuberante, onde ainda é permitido encontrar momentos de contemplação e puro bucolismo. Para os amantes de praias e ondas, o país oferece diversas opções de estilos, tamanhos e condições de ondas. Apesar do pré-requisito de ser um bom entendedor de condições climáticas e ocêanicas (e ainda contar com um pouco de sorte) para pegar um mar bom, nos momentos em que os elementos se alinham, o litoral uruguaio atinge qualidade internacional. Literalmente.
Ao contrário da costa do Rio Grande do Sul, que estabelece fronteira com la celeste, o litoral uruguaio é bastante recortado, possibilitando diversas combinações de swell e vento para a formação de boas ondas. Como forma de monitorar ondulações nessa parte do oceano Atlântico, sugerimos ficar de olho nos sites Windguru, Olas y Vientos, More Surf Mag e Paipo UY, que geralmente mantêm boletins atualizados. Embora movimentações oceânicas dos quadrantes Sul, Sudeste, Sudoeste e Nordeste proporcionem ondas na banda oriental, é preciso atentar que são necessárias ondulações mais consistentes do que as que fazem a alegria de surfistas, por exemplo, em Santa Catarina. Contextualizando, um swell de Sudeste que marca 0.9m na boia e período de 9 segundos, vai formar ondas na faixa de +0.5m em praias como a Ferrugem e a Vermelha, mas no litoral uruguaio, provavelmente, vai estar quase flat. Por isso, fique de olho em swells que marcam a partir de 1.3m e períodos de 9 segundos para cima.
Abaixo, separamos informações sobre alguns dos principais picos de Santa Teresa, Punta del Diablo, La Pedrera e La Paloma, as áreas mais favorecidas para o surf no Uruguai.
SANTA TERESA
La Moza: pointbreak com fundo de pedras que proporciona excelentes direitas de 2 a 8 pés localizado no Parque de Santa Teresa. Funciona com swell sudeste, ventos de norte ou noroeste e qualquer maré.
Las Achiras: praia seguinte de La Moza, também no Parque de Santa Teresa, Las Achiras funciona com quase todas direções de swell (N – NE – S – SE – SO) e ventos de norte, oeste e noroeste. São dois picos principais, mais próximo ao canto norte da praia onde predominam direitas e quanto mais ao sul, maior é a predominância de esquerdas. Em geral, as ondas funcionam de 2 a 6 pés.
Cerro Chato: uma praia extensa a oeste do morro em Santa Teresa. Direita de muita qualidade, quebra de 3 a 10 pés com swell de sudeste, ventos de norte a nordeste e maré crescente ou minguante. Chegue de fininho pois o pico é conhecido por ter locais protecionistas.
Ainda consideradas praias de Santa Teresa estão Playa del Barco e Playra Grande, também bastante extensas e mais expostas aos elementos. Funcionam de 2 a 8 pés, com direção de swell preferenciais de sudeste e leste (um pouco de nordeste favorece a del Barco) e ventos de noroeste, oeste e nordeste.
Pesqueros: considerada uma das joias de Santa Teresa, com swells de leste e nordeste, Pesqueros é uma esquerda que, dependendo do banco de areia e direção do swell, pode formar um point tubular que se estende até o meio da praia. Com ondulação de sul e sudeste, predominam direitas tubulares sobre a bancada de areia. Os ventos mais favoráveis são de norte e noroeste.
PUNTA DEL DIABLO
Rivero: uma praia versátil, porém, orientada para o leste, quadrante de onde recebe melhor as ondulações, chegando a suportar até 8 pés. Com swells de sul e sudeste se formam direitas e esquerdas que quebram no meio de praia. Dependendo da direção das ondas, os melhores ventos podem ser sul, sudoeste, oeste, noroeste e norte.
Playa de los Pescadores: praia mais tranquila, frequentada por famílias e onde descansam pescadores e seus barcos. Uma onda fácil e acessível a todos os níveis de surf, que funciona com swells de sul, sudeste, leste e este-nordeste. É a praia mais protegida de PDD e os ventos favoráveis são sul, sudeste, sudoeste, oeste e noroeste.
La Viúda: praia mais exposta e que, consequentemente, gera ondas mais fortes. Melhor direção de swell é de sul e sudeste, mas precisa de ventos fracos de norte, nordeste e noroeste. Detalhe: é uma das únicas praias da região que suporta ventos de leste.
LA PEDRERA
El Desplayado: uma das ondas mais clássicas e icônicas do Uruguay. Quando o swell de sudeste encontra ventos fracos, essa direita se torna uma das maravilhas de la celeste. Uma onda emparedada e tubular, quando as ondas passam de um metro o único acesso possível é pulando das pedras. Não é o pulo mais difícil que existe, mas é preciso calcular bem as séries para não ser varrido pelas afiadas pedras que formam o início do pico. Quebra de 3 a 10 pés e os melhores ventos são de norte e noroeste.
El Barco: um dos melhores beachbreaks do Uruguai, El Barco oferece direitas e esquerdas rápidas e tubulares. Praia de tombo e areia grossa, por vezes lembra o meio da praia do Silveira, em Garopaba. As melhores direções de swell são sul e sudeste e os ventos favoráveis são norte, nordeste e noroeste. Fique atento às correntes e pedras localizadas próximas aos destroços do barco.
LA PALOMA
La Aguada: uma das praias mais família de La Paloma, La Aguada proporciona ondas para todas idades e níveis de surf. Bastante frequentada por longboarders e merrequeiros (piada uruguaia), funciona melhor com ondulações de leste e sudeste e ventos de sudoeste, oeste e noroeste.
Los Botes: esquerda clássica que quebra em frente a uma formação rochosa e deve seu nome aos pescadores que frequentam a área. Suporta até 10 pés de ondulação e funciona melhor com swells de sul, sul-sudeste e este-sudeste. Os melhores ventos são de norte e leste. Na maré seca pode ficar perigosa, com pedras expostas em lugares inesperados.
Zanja Honda: outra esquerda muito boa de La Paloma, bastante similar a Los Botes. Quebra sobre uma bancada de pedras e pode formar ondas de até 150 metros. Funciona melhor com ondulações de sul, sudeste e leste e ventos de norte e nordeste.
Corumba: beachbreak extenso, também chamado de Playa Solari, é formado por diversas bancadas de esquerdas e direitas que quebram próximas a beira. Muito dependente da movimentação de areia, porém, bastante amigável em relação aos ventos de norte e nordeste, que predominam na região. A melhor ondulação para a formação de boas ondas é de sul e sudeste.
Existem outras dezenas (quiçá centenas) de picos de surf no Uruguai, incluindo a macroregião de Punta del Este, com picos muito bons como Jose Ignacio, El Emir e La Virgen, que nem entraram nesta lista. Além disso, há alguns “secret spots” ou picos que apenas o bom relacionamento com os locais irá te dar acesso. O segredo do surf no Uruguai é que ele requer paciência, conhecimento e muita paixão. Há que se surfar sozinho muitas vezes – isso só parece ter lado positivo para nós brasileiros que não suportamos mais crowd, mas experimente fazer uma sessão solo com água a 9 graus em beachbreak mexido -, há que se aturar o vento cortante, o frio que enrijece os músculos e diminui a vida útil de uma sessão consideravelmente. E há que suportar os flats recorrentes que molestam o litoral do Uruguai com a monotonia.
Em suma, surfar no Uruguai é para poucos. É algo que às vezes apenas os românticos entendem. Aqueles que suportam o amargor, para que o doce seja mais doce.
Lembre-se de quando estiver por lá, se comportar como gostaria de ver os forasteiros se comportando no seu pico. Tente evitar andar em grupos barulhentos, não reme de volta para o pico sem esperar sua vez, sorria e cumprimente as pessoas, se esforce para deixar o lugar melhor do que quando você chegou. Dessa forma, você contribui para que os surfistas, e brasileiros em geral, sejam lembrados pela buena onda e não por serem pertubadores da paz alheia.
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