Continuação do post sobre a Jordânia publicado no Spice essa semana:
Petra
Depois de horas curtindo o Mar Morto, partimos em direção a Wadi Musa, cidade onde fica o Parque Arqueológico de Petra. As 3h de viagem até lá nos fazem testemunha da beleza e da variedade das paisagens jordanianas da King’s Highway.
Chegamos a Wadi Musa no final da tarde, a tempo de fazer check in no Hotel Beit Zaman e assitir ao pôr do sol ao som da chamada para reza nas mesquitas ao redor. Fico arrepiada só de lembrar das cores do céu do vale e da musicalidade das orações. Pra quem sempre quis conhecer Petra, foi o começo perfeito para todas as descobertas que viriam no dia seguinte.
O Parque Arqueológico de Petra foi listado como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1985 e é considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno. A entrada do parque é quase uma continuação da rua principal de Wadi Musa, facilitando a localização dos turistas e oferecendo diversas opções de alimentação e hospedagem nas redondezas.
A região de Petra já era habitada há mais de 9.000 anos. Muitos povos passaram por ali, numa sucessão de ocupações que deixaram suas marcas no desenvolvimento da cidade. Desses vários povos, os principais responsáveis pela Petra que conhecemos hoje foram os Nabateus: uma antiga tribo árabe que partiu da Península Arábica mais de 2.200 anos atrás, estabelecendo-se no sul da Jordânia.
Os Nabateus trouxeram com eles as influências que receberam de culturas estrangeiras, por sua tradição mercantil em rotas que ligavam a China e a Índia à costa do Mediterrâneo. Aproveitaram a posição estratégica de Petra para estabelecer-se como os “donos” das rotas que por ali passavam, cobrando pedágio das caravanas que transportavam franquincenso, mirra, especiarias, sedas e marfim, em troca de proteção e abrigo.
Foram os Nabateus que esculpiram as famosas fachadas de pedra diretamente nas montanhas e construíram represas para evitar enchentes nos desfiladeiros e aquedutos para irrigar a cidade. Depois de anos estendendo seu reinado pela região, os Nabateus foram anexados pelo Império Romano em 106 DC. Petra continuou importante por muito tempo, até que a demanda pelas rotas locais diminuiu e a cidade foi esvaziando aos poucos, até que em 749 DC um terremoto se encarregou de espantar os últimos habitantes.
Sem saber o que estava perdendo, o mundo esqueceu Petra por muitos anos, até que em 1812 o explorador suíço Johann Ludwig Burckhardt (a.k.a. Sheikh Ibrahim Ibn Abdallah ) redescobriu a cidade de pedra durante sua preparação para uma expedição à África. Seu diário, Viagens na Síria e na Terra Santa, foi publicado em 1822, despertando a curiosidade do ocidente sobre a cidade rosada.
A mesma fenda que Burckhardt cruzou há mais de 200 anos ainda serve de entrada para a cidade arqueológica. É caminhando ali que a expectativa aumenta a cada passo, na ânsia de dar de cara com o Tesouro, a fachada mais famosa de Petra.
A cor incrível das rochas – contrastando com o azul do céu e o verde das árvores que teimam em crescer nos lugares mais inesperados – já seria o suficiente para impressionar, mas tem mais: com a luz do sol se embrenhando por onde consegue, vamos descobrindo as primeiras imagens esculpidas nos paredões de pedra e o aqueduto que abastecia a cidade, enquanto o guia nos descreve os feitos dos Nabateus e uma cidade cheia de vida.
A gente se distrai com tanta informação, até enxergar o que está ao final do caminho: por entre as rochas, banhado pela luz do sol, está o Tesouro – vermelho, inacreditável, inexplicável.
E ele é só o começo. A gente tenta, mas palavras e fotos não fazem jus ao que é Petra ao vivo.
Tivemos apenas um dia (8 exaustivas horas, mais precisamente) em Petra, o que não é suficiente pra conhecer tudo. Pelo que vimos, uns três dias seriam o ideal para fazer o passeio com mais calma, especialmente porque há pontos altos para os quais o caminho é bem desgastante.
Mesmo com tantas coisas pra ver, esses são apenas 10% de Petra que foram escavados até hoje. O restante permanece escondido sob a poeira vermelha, como é possível ver em algumas das fachadas parcialmente desenterradas.
Quero muito voltar e explorar o que não conseguimos conhecer pelo pouco tempo que tínhamos. E mal posso esperar pra conhecer os outros 90%.
Jerash
Na nossa última manhã no país, aproveitamos para visitar Jerash antes de nos despedirmos da Jordânia. A chuva fina e o pouco tempo foram compensados pelo bom humor do nosso guia local, que transformou nosso flash tour em uma hora muito bem aproveitada.
Jerash fica 50km ao norte de Amã e abriga as ruínas de uma das mais bem preservadas cidades romanas desta parte do mundo. A greco-romana Gerasa foi fundada em 170 AC, mas a área já era habitada na pré-história. Foi conquistada pelo Império Romano em 63 AC e a partir daí viveu seus anos dourados. Ficou esquecida até 70 anos atrás, quando começaram as escavações que revelaram as relíquias históricas do local.
Os templos e teatros, o fórum, os passeios públicos ao longo das colunatas, as fontes: está tudo lá. Até mesmo o hipódromo, que recebia corridas de carruagem e outros eventos esportivos, e que hoje – depois de trabalhos de recuperação – abriga shows que reproduzem as correografias do exército romano e suas corridas de bigas.
Jerash resumiu muito bem o que sentimos durante a viagem pela Jordânia. Tanta história nos faz sentir pequeninos, tanta hospitalidade nos faz sentir humildes. E tanta coisa ainda por ver nos deixa uma vontade imensa de voltar. Ainda mais estando tão pertinho.
DICAS GERAIS:
Petra
- Para entrar no Parque Arqueológico de Petra, paga-se ingresso e é possível contratar guias locais para explorar o parque. Como é um área muito grande, com atrações quase que escondidas, é legal ter o acompanhamento do guia para indicar os pontos imperdíveis. Não é necessário que ele acompanhe todo o passeio: é bom ter algumas horas livres para explorar o lugar por conta própria.
- Use roupas e sapatos confortáveis e resistentes: você vai caminhar muito, ficar cheio de poeira e, dependendo de onde quiser ir, vai escalar pedras. É importante usar algo para proteger a cabeça do sol – vale boné, chapéu ou até mesmo os lenços tradicionais dos beduínos, vendidos nas lojinhas de Wadi Musa e na entrada do parque. Óculos de sol, além do benefício óbvio, ajudam em caso de dias mais ventosos, em que a poeira pode ser bem desagradável aos olhos.
- Ao longo do parque, há banquinhas de souvenir (que aceitam até cartão de crédito), restaurantes e banheiros. Ainda assim, é bom ter provisões na mochila (água, snacks, papel higiênico).
- Não tivemos a oportunidade de fazer esse passeio, mas o Petra by Night parece ser uma excelente introdução ao parque arqueológico. Ele ocorre às segundas, quartas e quintas, e conduz os visitantes até o Tesouro para um espetáculo musical à luz de velas. Um bom teaser na véspera de conhecer tudo o que espera em Petra.
By Luciana Thiesen
Luciana é publicitária, nascida e criada em Porto Alegre, mas com o coração no mundo. Há cinco meses mora em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com o marido Gabriel. Juntos, aproveitam essa nova fase pra conhecer tudo que podem do lado de lá do planeta.
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