Como a gente já disse aqui no Spice, o Diogo Carvalho, sócio-fundador do Destemperados Brasil, esteve na Europa curtindo a lua de mel. A primeira passagem foi pela Provence (link aqui) e ele e a esposa Renata também passaram pela bela Barcelona.
Hoje, compartilhamos a dica do Diogo sobre um restaurante perfeito para quem quer conhecer um local tradicional e sem nenhuma frescura na cidade (e, o melhor de tudo, acessível para todos os orçamentos): o Tapas 24. Confere aí:
Quem aqui não presenciou aquele boom da cozinha espanhola né. De uma hora para outra, só se falava em chef espanhol, em desconstrução, cozinha molecular, tapas, etc. Legal, certamente marcou a linha do tempo da gastronomia, e contribuiu para o fluxo turístico do país, exatamente o que está acontecendo com o Peru atualmente.
Queria eu que o Brasil chegasse lá. Que nossa cozinha fosse um expoente mundial, e que as pessoas viessem pra cá gastar dinheiro comendo e bebendo, em lugares que representassem fielmente a identidade da gastronomia local. Um dia, quem sabe.
Dentre milhares de opções de lugares para jantar frente à poucos dias na cidade, optamos por alguma coisa bem tradiça, sem muita afetação, que não precisasse de calça jeans e que desse para ir caminhando. Demos um tiro certeiro no Tapas 24, logo acima da Plaça de Catalunya.
O Tapas 24 nada mais é do que um grande boteco. Para os porto-alegrenses, seria tipo uma Lancheria do Parque com um pouco mais de opções. Ou seja, um lugar super democrático, só com balcão e algumas (poucas) mesas na volta, que funciona por ordem de chegada e que pode-se comer pouco e gastar pouco, assim como pode-se comer muito e gastar muito.
Que foi o nosso caso. Não saio de casa pra comer pouco. E o legal desse conceito de tapas é que dá pra provar de tudo. O ideal mesmo é ficar broder do garçom e fazer o cara dar as barbadas das coisas realmente imperdíveis, senão a gente come sempre as mesmas coisas de sempre.
Nós ficamos melhores amigos do Gupta (não sei o nome dele, foi mal meu galo!), um espanhol com cara de indiano que era muito querido, que tratou de quebrar o gelo logo na chegada e fazer com que a gente se sentisse tipo no Jobi. Esperamos na fila tomando chopinho, e assim que vagou dois lugares no balcão, ele já nos recebeu com mais dois!
Para abrir o apetite: Bomba de la Barceloneta, um bolão de batata com carne e molho picante. Supostamente era o carro-chefe da casa, totalmente compreensível.
Como falei antes, o negócio é fazer roleta-russa no menu e sair atirando em direção às tapas com nomes mais apetitosos. Logo em seguida, portanto, as croquetas de pernil ibérico. Cara, era de uma cremosidade absurda, parecia um mousse por dentro, e por fora bem torradinho.
Volta e meia, quando entrávamos num impasse, o Gupta entrava em ação para desfazer as dúvidas. Passo seguinte, um misto quente depois do raio gourmetizador, mas absolutamente justificável. Quem me dera se todas as torradinhas lá em casa fossem assim, com trufas negras, jamón ibérico curado e mussarela de búfala!
O próximo foi um cara chamado “Ous Estrellats al gust“, que imagino ser ovos estrelados com toppings ao gosto do freguês. No nosso caso, foi batata e chorizo. Épico.
Neste momento passamos a ser os protagonistas do bar, porque absolutamente todos os garçons começaram a achar incrível o apetite do casal de brasileiros. Paralelo a isto já tinha também um casal de australianos brindando conosco, e um casal de Porto Alegre que nos reconheceu pelas fotos do Instagram que recém havíamos postado. Estávamos em casa, portanto. Então desce um omelete com jamón ibérico pra seguir a prosa.
Aí era hora da salada né. Porque todo mundo fala que o saudável mesmo é comer salada no final. Então solta aí um pinxo de tirinhas de cordeiro com pimenta aí.
Acho que estávamos chegando no nosso limite, porque a gente se engana achando que as porções são pequenas etc, quando na verdade se somar tudo junto daria bem mais do que pesar a mão num open bar de feijoada. Mas pela curiosidade, pedimos umas costelinhas de coelho à milanesa, com maionese. Divertido. Não comeria novamente porque tenho pavor de ficar “procurando” carne, mas é bacana até.
Sofro de um problema agudo e irremediável, ainda sem nome. Tenho dificuldade em negar coisas, em dizer “não”. Em outras palavras, não sei o limite de parar. O Gupta percebeu a farra que tava acontecendo ali na nossa volta e quis preparar um Gim Tônica. Cara, não queria misturar porque estava tomando cerveja, além do que não tomo Gim Tônica desde os meus 17 anos. OPA PERA APAGA. Mas não me arrependi, tava muito bem feito.
Todo mundo tá careca de saber que o compartimento do salgado é totalmente independente com relação ao do doce, confere? Isso significa que o cara pode ter comido até morrer, que sempre cabe um docinho. Uma das únicas opções era uma sobremesa bem tradicional, um mousse de chocolate com azeite de oliva e flor de sal. É uma sensação engraçada, mas que vale a pena.
Total da noite: 43 euros por pessoa. Quem converte, não se diverte. Então prefiro fantasiar que custou 43 dinheiros. Se morássemos lá, seria 43 reais. Nada mal.
Sócio-fundador do Destemperados Brasil